Vencendo pelo Aprendizado da Derrota

 

Nota de Eli Gonçalves: Sou santista, nascido e criado na Vila Belmiro, mas a derrota do meu time do coração me revelou aspectos mais amplos e mais impactantes, que valem não apenas para torcedores de todos os times de futebol, mas para todos os cidadãos, empresários e administradores deste país:

 

1- Ufanismo e Prepotência Corroem a Competência.
Foi assim com o Brasil no futebol (não somos mais os melhores há, pelo menos, 10 anos) e pode ser assim com qualquer empresa ou país. Pode-se atingir excelência com acertos, mas jamais mantê-la com desprezo pelos erros.

 

2- Visão e Valores Coletivos – efetivamente praticados – Potencializam e Perpetuam Talentos.
Enquanto cultuamos neymares, nossos clubes estão falidos e a Organização da Copa 2014  prima apenas pelo superfaturamento de obras com pouco legado social. Já o Barcelona, há 40 anos recebe os maiores craques da história (Cruyff, Maradona, Romário, Ronaldo, Messi, entre outros), mas acima de todos está uma filosofia de trabalho e um planejamento aliado à disciplina de execução que os transformam em estrelas ainda mais reluzentes. A própria cidade de Barcelona revitalizou-se em transporte, cultura, entretenimento e serviços sociais através das obras para a Olimpíada de 92.
A estrela é resultado da constelação (Tejon); o espetáculo é mais importante que os artistas (Sócrates – jogador). O culto à inventividade é mais importante que Thomas Edison; o culto ao aprimoramento funcional é mais importante que Steve Jobs; o culto à humildade, virtude, tolerância, liberdade e benevolência são mais importantes que qualquer líder de qualquer religião ou nação.
Desfrutem do artigo abaixo!

 

Por José Luiz Tejon Megido*

 

4×0 : como transformar uma grande derrota

num fundamento da vitória ?

Todos os santistas e brasileiros amantes do futebol ficaram perplexos com os 4×0 tomados pelo Santos, do Barcelona , na final do campeonato mundial inter clubes. Talvez o mesmo sentimento que os portugueses sofreram, em 1961,  ao serem goleados por 5×2 no Estádio da Luz em Lisboa, pelo então Santos de Pelé. A questão que nos serve de metáfora e analogia é qual o aproveitamento que podemos tirar de grandes derrotas, seja no esporte, na política, na profissão ou na vida pessoal de cada um de nós ? Para uma cabeça de líder a vivência do fato é um espetacular laboratório de análises.  Algo muito bom é concluir que uma grande derrota pode ser muito melhor do que uma pequena derrota. Nas pequenas derrotas encontramos as desculpas do ” acaso ” ( que existe, mas que teima em ajudar sempre os mais preparados ! ) . E, o Deus da sorte ou do azar cria as defesas do auto-engano e das ilusões. Uma grande derrota é contundente e serve de lição, podendo se constituir num fundamento da vitória. Para tirarmos proveito do infortúnio vivido, precisamos assumir o ” choque da realidade “. Prefiro chamar isso de ” beijo da realidade “. O passo seguinte é não cair na tentação de botar a culpa em alguém, neste ou naquele, pois isso também serve para mascarar o poder do aprendizado. A dolorosa derrota do Santos significa um ” botar as barbas de molho ” para todo futebol brasileiro. Tanto dos clubes, das lideranças, das Federações, dos jogadores, torcidas ; quanto da imprensa e dos pensadores da questão.  Um cara de cuca muito legal no futebol, o Sócrates, deixou conosco uma pérola sintética das suas observações : ” .. precisamos aprender a vender o espetáculo e não os artistas “. Com isso queria dizer que, se não criarmos uma estratégia de preservação dos elencos, e uma fórmula de remuneração dos clubes para que possam competir globalmente, não teremos times, e ao não termos times, não teremos grandes jogadores, e os poucos que formarmos irão embora cedíssimo. Porém, antes e muito acima do futebol vive uma estratégia superior : a das nações, a das transações, a da mídia e a da constituição de inovações e de grupos criativos que alteram o estado conhecido das coisas, até o seu surgimento. Quero dizer : antes e acima de um Barcelona Futebol Clube, existe Barcelona em si, a Olimpíada la disputada, a enxurrada inovadora e uma qualidade espetacular de liderança e de homens e mulheres certos nos lugares certos. Na construção de Brasilia, a genialidade floresceu e uma obra de grandes líderes ocorreu. No agronegócio brasileiro que explica o desenvolvimento do interior do país, temos esforços dos melhores na integração da pesquisa, da tropicalidade, da educação, do arrojo, empreendedorismo e na criatividade pura, onde inventamos duas safras no mesmo ano  e somos o maior exemplo em condições tropicais do plantio direto. Nas empresas vencedoras que superam o tempo assistimos da mesma forma essa edificação mental, espiritual, ambiental e ética do entorno da qualidade e da criatividade,  que permite o florescimento de êxitos marcantes e surpreendentes. E, para fazer da emoção  uma regra, costuma ser sempre nesses plasmas criativos e criadores onde despontam os Pelé’s e Messis’s do mundo. Quer dizer, estrelas são o resultado de suas constelações e não as constelações resultados da estrela. Voltando ao futebol e ao Santos, brilhante o esforço para manter Neymar no Brasil. Porém, um Neymar só não faz verão, assim como um Pelé sozinho não faria e também um Garrincha não existiria. O Santos apanhou para um sistema estratégico e criativo muito mais evoluido. Não ocorreram derrotas individuais. O que vimos foi um choque de realidade que deve servir para o surgimento de uma nova liderança e elite no Futebol do Brasil, na sua integração com a América Latina e num projeto de globalização, tendo nos clubes a força central e determinante, e não na exportação de jogadores e na sua posterior recolha para permitir as receitas da CBF. Temos uma confederação rica e clubes falidos, e uma receita que inviabiliza a competitividade nos niveis ” Barcelônicos “.  Aos meus amigos santistas posso dizer : levanta, sacode a poeira e vamos dar a volta por cima; como cantava Noite Ilustrada. À gestão do futebol no Brasil, que as barbas fiquem de molho, e saiam velozmente da ” baba ” do auto engano, das ilusões. Dos anos 2 002 em diante, quais são as estrelas reveladas pelo Brasil no futebol ? Quantos jogadores temos nas listas dos melhores do mundo ? Nem daqui, nem do exterior.  No jogo da vida, que é um jogo, podemos aprender a jogar. O Barcelona não deu uma aula do lado de dentro do campo. A aula começa muito antes do campo. Domênico de Masi, sociólogo italiano explica no seu brilhante livro ” A Emoção e a Regra “, que a formação de grupos criativos que mudam o mundo são obras da arte e da disciplina da liderança evoluida, onde o acaso termina por ajudar, mas não por determinar. Ao amigo e Presidente do Santos – Luiz Álvaro, que continue e use sua capacidade e experiência para fazer dessa fulminante derrota um marco consistente e o fundamento da grande vitória. Podemos vir a ser. Essa causa é a grande causa humana, e que o exemplo do futebol nos permita pensar na liderança do Brasil, num dos momentos mais intensos e imensos da nossa história. Que os ” Barcelona’s ” existentes em todos os segmentos da vida possam nos servir de veloz inspiração e imediata absorção.

* José Luiz Tejon  é publicitário, jornalista, autor e co-autor de 27 livros, como  “O vôo do cisne”,  “A grande virada – 50 regras de ouro para dar a volta por cima” e “Luxo for all”.  É presidente da TCA Internacional, com parcerias na Europa, Estados Unidos, China e Israel. tejon@tejon.com.br

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